
Vivemos tempos que deslizam entre nossos dedos como grãos de areia fina, onde a tecnologia avançada se torna ao mesmo tempo ponte e abismo. Como millennial, fui testemunha do nascer de um mundo digital, uma época em que a internet era ainda um sussurro e não o rugido que permeia todas as facetas da vida moderna. Hoje, ao observar a Geração Z, não posso evitar refletir sobre como a pressa em alcançar tudo pode fazer com que se perca o essencial.
A Geração Z, tão nativa desse oceano tecnológico, carrega a inquietação de quem nasceu vendo o mundo como um palco onde tudo pode ser acessado em segundos. Eles possuem a fluidez que meu tempo levou anos para conquistar, a audácia de questionar tradições que pareciam inquestionáveis. Mas, nesse navegar veloz, vejo sombras — a sombra da fragilidade emocional, da dependência de validações externas e do descompasso com o mundo físico.
Enquanto nós, millennials, fomos a ponte entre o analógico e o digital, aprendendo a ouvir o som de um disco enquanto navegávamos pelos primeiros streams, a Geração Z não conheceu essa transição. Eles nasceram em um mundo de abundância informacional, mas também de ruídos, onde cada voz é amplificada, mas poucas realmente ouvidas.
Há uma beleza na busca deles por equilíbrio entre vida e trabalho, na recusa de se render a sistemas que já não lhes servem. Contudo, é preciso lembrar que a vida não é apenas feita de escolhas, mas também de compromissos — com os outros, com o tempo e, principalmente, consigo mesmo. A liberdade sem disciplina é como uma lâmina sem cabo: ela corta tanto quem a empunha quanto o que tenta moldar.
Nós, millennials, conhecemos o gosto da espera. Sabíamos que para baixar uma música, precisávamos de minutos, talvez horas. Construímos paciência sem perceber que ela nos moldava. A Geração Z, com suas respostas imediatas e sua fome insaciável pelo agora, parece, às vezes, caminhar no sentido oposto: um universo onde o amanhã é um conceito distante e o presente, uma maratona de likes e cliques.
E aqui reside o maior paradoxo dessa era. Nunca foi tão fácil se destacar e, ao mesmo tempo, tão difícil permanecer relevante. Como bem disse um neurocientista, basta ler um livro por semestre para estar à frente de 95% das pessoas. O básico se tornou extraordinário. A disciplina virou um superpoder.
Mas culpar a Geração Z seria simplista e injusto. Eles não criaram o mundo em que nasceram; eles apenas aprenderam a respirar o ar que lhes foi dado. Se há algo que nós, de gerações anteriores, podemos oferecer, é a paciência para guiar, o exemplo de perseverança e a lembrança de que raízes profundas resistem às maiores tempestades.
A Geração Z é como uma chama vibrante, que ilumina, mas pode se consumir se não aprender a encontrar equilíbrio. E nós, que viemos antes, somos a madeira que pode alimentar esse fogo, garantindo que ele aqueça em vez de destruir.
O desafio não está apenas neles, mas em todos nós: reconciliar a velocidade com a profundidade, o novo com o eterno, o eu com o nós. Afinal, o futuro sempre foi jovem, mas é a sabedoria que o torna promissor. E o tempo, apesar de suas urgências, ainda é o maior mestre de todos.